Relógio da Terra

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Efeitos de uma segregação racial, social, econômica e espacial no Reino Unido (e no Brasil)

TUMULTO
O Rappa
Composição: (marcelo Yuka, O Rappa)

Eu sempre penso duas vezes
Antes de entrar
Mas tem certos momentos
Que atingem o inconsciente popular
Inconsciente popular

Tumulto, corra que o tumulto está formado
Vem cá, vem vê, vem cá, vem vê-ê
Que dentro do tumulto pode estar você

Panela batendo, toca fogo no pneu, põe barricada
Velhos, senhoras e crianças
A mulecada pula, debocha e dá risada
Parece brincadeira, mas não é

A comunidade não aguenta tanto tempo sem água

Tudo bem ele era o bicho
Mas saiu daqui inteiro
Até chegar no hospital
Levou três tiros no peito
E a galera daqui
Fez igual fizeram em Vigário Geral
Todo mundo pra rua aumentar o som (2x)
Pra causar algum tipo de repercussão (2x)

Quando o monstro vem chegando
Chegando, chegando, chegando
E ameaçando invadir o seu lar
(Parado ae no memo lugar se não se corrê eu atiro)

A situação de desobediência civil que ocoreu em Londres, devido a execução de um jovem negro pela polícia birtânica, trouxe a tona mais uma vez os percalços da produção de uma sociedade desigual e segregacionista. Esse homem, chamado Mark Duggan, pai de 4 filhos, foi morto pela Scotland Yard (polícia local), sem nenhuma explicação coerente e convincente. Entretanto, podemos deduzir que ele foi morto, porque era negro e pobre. Afinal essa é a imagem (estereótipo) daquele que é visto como bandido em países de elite branca, como o Reino Unido (e como o Brasil). Essa morte foi o estopim de algo que já estava sendo forjado há um bom tempo na sociedade britânica. Ou alguém pensa que as pessoas vão passar a vida toda aceitando a condição de subserviência ao poder de um Estado comandado por uma elite branca, que dá pouco retorno em relação a melhoria da qualidade de vida?
Boa parte da população negra (e imigrante) do Reino Unido vive em bairros pobres da periferia das grandes cidades. Para trabalhar e estudar precisam realizar grandes deslocamentos pela cidade, pois os serviços públicos não são ofertados com a mesma quantidade e qualidade do que nas áreas centrais. Esses serviços, que já eram precários, se tornam cada vez piores pela postura conservadora e neoliberal dos governos, de corte nos gastos públicos. Esse tipo de ação tem se implantado no Reino Unido (e em outros lugares do mundo) com o suposto objetivo de fazer o país sair da recessão econômica em que se encontra. Mas a recessão econômica é estrutural, ou seja, é própria da organização econômica global atual, onde as empresas têm optado por instalar suas fábricas nos países pobres em busca de uma mão-de-obra mais barata. Com a falta de empregos e de perspectivas, cria-se uma situação bastante explosiva. De certa forma, esse cenário está por trás das ações ocorridas em Londres. Aliás é importante que se destaque: embora tenha sido provocada pelo assassinato de um negro, e os protestos derivados tenham começado com a população pobre da periferia, outros grupos se aliaram às manifestações - como afirma a reportagem a seguir: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18245.
O que aconteceu há pouco no Reino Unido, já ocorreu na França em 2005, e é recorrente no Brasil. A música Tumulto do Rappa (1996), que inicia nosso texto, retrata as manifestações que ocorrem na periferia diante da precaridade dos serviços públicos oferecidos por um Estado seletivo e repressor em suas ações. Como exemplo a música dá enfoque ao massacre de Vigário Geral, em que 21 pessoas foram assassinadas por um grupo de extermínio da polícia local no ano de 1993. Assim como em Londres, aconteceram protestos da população local contra a situação de repressão. E volta e meia, acontecem protestos por situações similares, que não são repercutidos pela grande mídia brasileira (ou são mal repercutidos). Com relação ao caso britânico tivemos exceções, como no caso da reportagem feita pela TV Cultura, que apresentamos a seguir. Agora falta dar luz aos problemas sociais brasileiros.







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