Antes de ler o texto, gostaria que você assistisse essa reportagem:
http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/t/edicoes/v/governo-grego-deve-desiste-de-referendo/1684682/
A apresentadora do jornal, ao chamar a matéria, diz que a economia ficou aliviada com a desistência do referendo encomendado pelo governo grego. Referendo que serviria para aprovar ou não, o pacote de medidas antipopulares (como aumento de impostos, demissão de trabalhadores, redução de salários, etc.) colocadas no pacto que a União Européia fez com o governo grego, para salvar as finanças locais. Pela quantidade de mobilizações contra as medidas impopulares que estão ocorrendo na Grécia, era bem provável que o referendo apontasse pela não aprovação das medidas impopulares. Não aprovando as medidas, a Grécia teria que dar calote em bancos de diferentes nacionalidades (italianos, britânicos, americanos, etc.). Ou seja, a economia, da forma como está estruturada, sofreria um grande revés.
http://geoolhar.blogspot.com/2011/10/crise-mundial-os-dominos-estao-prontos.html
Contudo para provar que a populaçao perdeu o total controle sobre o sistema econômico, o referendo grego não sairá. A economia nos moldes de hoje, se tornou praticamente autonoma perante a sociedade, na medida em que as pessoas perderam a capacidade de orientá-la para o seu próprio bem. O filósofo francês Edagr Morin fala em um quadrimotor do desenvolvimento formado por ciência/técnica/economia/lucro, que sem freios carrega a sociedade para o caos social.
A automação do sistema econômico significa a perda de autonomia social. Os gregos não possuem mais ingerência sobre o seu próprio território. E o Brasil não está imune a esse tipo de problema, pois o sistema financeiro está totalmente integrado. Resta esperar as cenas do próximo capítulo... ou se mobilizar.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Crise Mundial: os dominós estão prontos para cair
O colega Paulo Henrique me passou um link do The New York Times, sugerindo que eu fizesse uma postagem no Blog. Achei o material super bacana, e estou divulgando:
http://www.nytimes.com/interactive/2011/10/23/sunday-review/an-overview-of-the-euro-crisis.html
Os gráficos mostram a relação de endividamento que envolve diferentes países do mundo, chamando a atenção para as nações europeias que estão em crise econômica.
As setas possuem a direção credor-devedor, ou seja, caminha na direção daqueles que emprestam recursos para àqueles que recebem esses empréstimos. É possível ver que todos os países possuem seus credores e seus devedores. Alguns países são mais devedores que credores, assim como o contrário também acontece. Contudo, os países mais credores também sofrerão um grande revés caso as economias dos devedores entre em falência. É por isso que a Alemanha, a França e o Reino Unido estão "colocando a faca no pescoço" da Grécia, e de outros países como Portugal e Espanha (que aparecem no gráfico em cor mais escura, por serem as economias que estão mais vulneráveis). A União Européia emprestou dinheiro para a Grécia, entretanto exigiu que o governo cortasse gastos. E os cortes foram realizados em gastos sociais. Ou seja, por causa de uma globalização econômica realizada de forma irresponsável e com o único objetivo de maximizar os lucros de grandes corporações financeiras, populações como a grega, terão que arcar com as fragilidades do sistema econômico. Aliás, isso é algo que os economistas chamam de "externalidades". As externalidades ocorrem quando alguém deve "pagar o pato" por alguma operação financeira que não participou. No caso da Grécia, a ciranda financeira que envolve os bancos, que compram dividas de outros países para lucrar cada vez mais, criou uma situação de precariedade social para a população local. Hoje a Grécia deve para a França, Alemanha, Portugal, Itália, EUA, Japão, Espanha, Reino Unido, Irlanda. Se a Grécia der um calote de fato, os dominós estão armados para cair, pois Itália, Espanha, Portugal e Irlanda estão também muito fragilizados. O problema é que as vacinas nesses casos de crise são sempre aplicadas na perspectiva de "externalizar" os custos. Ou seja, pessoas de outros lugares do mundo poderão sofrer com os efeitos da crise.
É por isso que a população de diversos lugares do planeta está indo as ruas para protestar e para retomar o controle das instituições políticas e financeiras que tanto influenciam a nossa vida. Nos EUA temos o movimento Occupy Wall Street. Na Espanha ocorre o movimento Democracia Real. No Chile temos os Indignados (que derivou da mobilização espanhola). Cabe salientar que no dia 15 de outubro, chamado de dia da Revolução Mundial, cerca de 900 cidades no mundo tiveram protestos.
E no Brasil?
O Brasil não está imune, e por isso já começaram as manifestações em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em tantas outras cidades. Em Florianópolis tem gente acampando na UFSC para se engajar no movimento global. Está na hora da população deixar de assumir as externalidades negativas do sistema político-econômico e sair as ruas para protestar, ou os dominós cairão tantas outras vezes, que nunca teremos controle sobre eles.
http://www.nytimes.com/interactive/2011/10/23/sunday-review/an-overview-of-the-euro-crisis.html
Os gráficos mostram a relação de endividamento que envolve diferentes países do mundo, chamando a atenção para as nações europeias que estão em crise econômica.
As setas possuem a direção credor-devedor, ou seja, caminha na direção daqueles que emprestam recursos para àqueles que recebem esses empréstimos. É possível ver que todos os países possuem seus credores e seus devedores. Alguns países são mais devedores que credores, assim como o contrário também acontece. Contudo, os países mais credores também sofrerão um grande revés caso as economias dos devedores entre em falência. É por isso que a Alemanha, a França e o Reino Unido estão "colocando a faca no pescoço" da Grécia, e de outros países como Portugal e Espanha (que aparecem no gráfico em cor mais escura, por serem as economias que estão mais vulneráveis). A União Européia emprestou dinheiro para a Grécia, entretanto exigiu que o governo cortasse gastos. E os cortes foram realizados em gastos sociais. Ou seja, por causa de uma globalização econômica realizada de forma irresponsável e com o único objetivo de maximizar os lucros de grandes corporações financeiras, populações como a grega, terão que arcar com as fragilidades do sistema econômico. Aliás, isso é algo que os economistas chamam de "externalidades". As externalidades ocorrem quando alguém deve "pagar o pato" por alguma operação financeira que não participou. No caso da Grécia, a ciranda financeira que envolve os bancos, que compram dividas de outros países para lucrar cada vez mais, criou uma situação de precariedade social para a população local. Hoje a Grécia deve para a França, Alemanha, Portugal, Itália, EUA, Japão, Espanha, Reino Unido, Irlanda. Se a Grécia der um calote de fato, os dominós estão armados para cair, pois Itália, Espanha, Portugal e Irlanda estão também muito fragilizados. O problema é que as vacinas nesses casos de crise são sempre aplicadas na perspectiva de "externalizar" os custos. Ou seja, pessoas de outros lugares do mundo poderão sofrer com os efeitos da crise.
É por isso que a população de diversos lugares do planeta está indo as ruas para protestar e para retomar o controle das instituições políticas e financeiras que tanto influenciam a nossa vida. Nos EUA temos o movimento Occupy Wall Street. Na Espanha ocorre o movimento Democracia Real. No Chile temos os Indignados (que derivou da mobilização espanhola). Cabe salientar que no dia 15 de outubro, chamado de dia da Revolução Mundial, cerca de 900 cidades no mundo tiveram protestos.
E no Brasil?
O Brasil não está imune, e por isso já começaram as manifestações em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em tantas outras cidades. Em Florianópolis tem gente acampando na UFSC para se engajar no movimento global. Está na hora da população deixar de assumir as externalidades negativas do sistema político-econômico e sair as ruas para protestar, ou os dominós cairão tantas outras vezes, que nunca teremos controle sobre eles.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Efeitos de uma segregação racial, social, econômica e espacial no Reino Unido (e no Brasil)
TUMULTO
O Rappa
Composição: (marcelo Yuka, O Rappa)
Eu sempre penso duas vezes
Antes de entrar
Mas tem certos momentos
Que atingem o inconsciente popular
Inconsciente popular
Tumulto, corra que o tumulto está formado
Vem cá, vem vê, vem cá, vem vê-ê
Que dentro do tumulto pode estar você
Panela batendo, toca fogo no pneu, põe barricada
Velhos, senhoras e crianças
A mulecada pula, debocha e dá risada
Parece brincadeira, mas não é
A comunidade não aguenta tanto tempo sem água
Tudo bem ele era o bicho
Mas saiu daqui inteiro
Até chegar no hospital
Levou três tiros no peito
E a galera daqui
Fez igual fizeram em Vigário Geral
Todo mundo pra rua aumentar o som (2x)
Pra causar algum tipo de repercussão (2x)
Quando o monstro vem chegando
Chegando, chegando, chegando
E ameaçando invadir o seu lar
(Parado ae no memo lugar se não se corrê eu atiro)
A situação de desobediência civil que ocoreu em Londres, devido a execução de um jovem negro pela polícia birtânica, trouxe a tona mais uma vez os percalços da produção de uma sociedade desigual e segregacionista. Esse homem, chamado Mark Duggan, pai de 4 filhos, foi morto pela Scotland Yard (polícia local), sem nenhuma explicação coerente e convincente. Entretanto, podemos deduzir que ele foi morto, porque era negro e pobre. Afinal essa é a imagem (estereótipo) daquele que é visto como bandido em países de elite branca, como o Reino Unido (e como o Brasil). Essa morte foi o estopim de algo que já estava sendo forjado há um bom tempo na sociedade britânica. Ou alguém pensa que as pessoas vão passar a vida toda aceitando a condição de subserviência ao poder de um Estado comandado por uma elite branca, que dá pouco retorno em relação a melhoria da qualidade de vida?
Boa parte da população negra (e imigrante) do Reino Unido vive em bairros pobres da periferia das grandes cidades. Para trabalhar e estudar precisam realizar grandes deslocamentos pela cidade, pois os serviços públicos não são ofertados com a mesma quantidade e qualidade do que nas áreas centrais. Esses serviços, que já eram precários, se tornam cada vez piores pela postura conservadora e neoliberal dos governos, de corte nos gastos públicos. Esse tipo de ação tem se implantado no Reino Unido (e em outros lugares do mundo) com o suposto objetivo de fazer o país sair da recessão econômica em que se encontra. Mas a recessão econômica é estrutural, ou seja, é própria da organização econômica global atual, onde as empresas têm optado por instalar suas fábricas nos países pobres em busca de uma mão-de-obra mais barata. Com a falta de empregos e de perspectivas, cria-se uma situação bastante explosiva. De certa forma, esse cenário está por trás das ações ocorridas em Londres. Aliás é importante que se destaque: embora tenha sido provocada pelo assassinato de um negro, e os protestos derivados tenham começado com a população pobre da periferia, outros grupos se aliaram às manifestações - como afirma a reportagem a seguir: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18245.
O que aconteceu há pouco no Reino Unido, já ocorreu na França em 2005, e é recorrente no Brasil. A música Tumulto do Rappa (1996), que inicia nosso texto, retrata as manifestações que ocorrem na periferia diante da precaridade dos serviços públicos oferecidos por um Estado seletivo e repressor em suas ações. Como exemplo a música dá enfoque ao massacre de Vigário Geral, em que 21 pessoas foram assassinadas por um grupo de extermínio da polícia local no ano de 1993. Assim como em Londres, aconteceram protestos da população local contra a situação de repressão. E volta e meia, acontecem protestos por situações similares, que não são repercutidos pela grande mídia brasileira (ou são mal repercutidos). Com relação ao caso britânico tivemos exceções, como no caso da reportagem feita pela TV Cultura, que apresentamos a seguir. Agora falta dar luz aos problemas sociais brasileiros.
O Rappa
Composição: (marcelo Yuka, O Rappa)
Eu sempre penso duas vezes
Antes de entrar
Mas tem certos momentos
Que atingem o inconsciente popular
Inconsciente popular
Tumulto, corra que o tumulto está formado
Vem cá, vem vê, vem cá, vem vê-ê
Que dentro do tumulto pode estar você
Panela batendo, toca fogo no pneu, põe barricada
Velhos, senhoras e crianças
A mulecada pula, debocha e dá risada
Parece brincadeira, mas não é
A comunidade não aguenta tanto tempo sem água
Tudo bem ele era o bicho
Mas saiu daqui inteiro
Até chegar no hospital
Levou três tiros no peito
E a galera daqui
Fez igual fizeram em Vigário Geral
Todo mundo pra rua aumentar o som (2x)
Pra causar algum tipo de repercussão (2x)
Quando o monstro vem chegando
Chegando, chegando, chegando
E ameaçando invadir o seu lar
(Parado ae no memo lugar se não se corrê eu atiro)
A situação de desobediência civil que ocoreu em Londres, devido a execução de um jovem negro pela polícia birtânica, trouxe a tona mais uma vez os percalços da produção de uma sociedade desigual e segregacionista. Esse homem, chamado Mark Duggan, pai de 4 filhos, foi morto pela Scotland Yard (polícia local), sem nenhuma explicação coerente e convincente. Entretanto, podemos deduzir que ele foi morto, porque era negro e pobre. Afinal essa é a imagem (estereótipo) daquele que é visto como bandido em países de elite branca, como o Reino Unido (e como o Brasil). Essa morte foi o estopim de algo que já estava sendo forjado há um bom tempo na sociedade britânica. Ou alguém pensa que as pessoas vão passar a vida toda aceitando a condição de subserviência ao poder de um Estado comandado por uma elite branca, que dá pouco retorno em relação a melhoria da qualidade de vida?
Boa parte da população negra (e imigrante) do Reino Unido vive em bairros pobres da periferia das grandes cidades. Para trabalhar e estudar precisam realizar grandes deslocamentos pela cidade, pois os serviços públicos não são ofertados com a mesma quantidade e qualidade do que nas áreas centrais. Esses serviços, que já eram precários, se tornam cada vez piores pela postura conservadora e neoliberal dos governos, de corte nos gastos públicos. Esse tipo de ação tem se implantado no Reino Unido (e em outros lugares do mundo) com o suposto objetivo de fazer o país sair da recessão econômica em que se encontra. Mas a recessão econômica é estrutural, ou seja, é própria da organização econômica global atual, onde as empresas têm optado por instalar suas fábricas nos países pobres em busca de uma mão-de-obra mais barata. Com a falta de empregos e de perspectivas, cria-se uma situação bastante explosiva. De certa forma, esse cenário está por trás das ações ocorridas em Londres. Aliás é importante que se destaque: embora tenha sido provocada pelo assassinato de um negro, e os protestos derivados tenham começado com a população pobre da periferia, outros grupos se aliaram às manifestações - como afirma a reportagem a seguir: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18245.
O que aconteceu há pouco no Reino Unido, já ocorreu na França em 2005, e é recorrente no Brasil. A música Tumulto do Rappa (1996), que inicia nosso texto, retrata as manifestações que ocorrem na periferia diante da precaridade dos serviços públicos oferecidos por um Estado seletivo e repressor em suas ações. Como exemplo a música dá enfoque ao massacre de Vigário Geral, em que 21 pessoas foram assassinadas por um grupo de extermínio da polícia local no ano de 1993. Assim como em Londres, aconteceram protestos da população local contra a situação de repressão. E volta e meia, acontecem protestos por situações similares, que não são repercutidos pela grande mídia brasileira (ou são mal repercutidos). Com relação ao caso britânico tivemos exceções, como no caso da reportagem feita pela TV Cultura, que apresentamos a seguir. Agora falta dar luz aos problemas sociais brasileiros.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
A importância dos sinais em uma economia informacional
Ontem (08/08/2011) a bolsa de valores de São Paulo caiu 8,08%. Nos EUA, o índice Dow Jones, que mede as negociações da Bolsa de Nova York, recuou 5,55%, e o índice da área tecnológica, Nasdaq, caiu 6,9%. Já o Hang Seng, de Hong Kong, teve queda de 5,66%. Em todo o mundo houve queda das bolsas de valores. Mas o que motivou essa queda?
O que provocou esse turbilhão na economia foi uma informação, um sinal dado por um grupo de especialistas da Standard & Poor's, que rebaixaram a classificação de risco dos EUA de AAA para AA+. Ou seja, o que esses especialistas fizeram foi o anúncio de que investir nos EUA tornou-se mais arriscado. Para os especuladores globais, que injetam dinheiro em várias bolsas do mundo, se o investimento nos EUA é arriscado, o que se dirá de outros países como o Brasil? Nesse sentido, os especuladores retiram o dinheiro investido em vários locais do mundo, e ficam a espera de um cenário mais positivo. Eis o grande problema: a matriz produtiva depende, no modelo capitalista atual, do dinheiro proveniente da especulação dos mercados. Especular, no campo econômico, significa imaginar uma situação futura buscando tirar uma vantagem financeira dessa projeção. A melhor maneira para projetar o futuro é a informação, e por consenquência os sistemas informacionais e científicos ganham força nesse momento histórico do desenvolvimento capitalista. Uma informação como o rebaixamento da nota dos EUA é capaz de gerar tantos estragos, porque permite projetar cenários instantanamente. Tal situação revela a fragilidade do sistema econômico que vivemos, pois nos torna dependentes de um grupo econômico, os especuladores financeiros, que nunca querem perder. Agora, outra pergunta, por que os EUA se tornaram um mercado arriscado?
Os EUA estão em recessão econômica há praticamente uma década. Em 2008 a crise imobiliária foi o estouro de um processo que estava sendo gestado há algum tempo com a saída da produção industrial para locais onde a mão-de-obra é mais barata. Embora as matrizes das grandes empresas continuassem instaladas nos EUA, a empregabilidade da população estadunidense diminuiu sensívelmente (o que inclusive aumentou a desigualdade social interna). Em 2008, tentando segurar a crise, o Estado americano injetou 4 trilhões de dólares na economia, através do aumento de linhas de crédito, compra de capitais em empresas, etc. Ou seja, o governo americano funcionou como uma seguradora das empresas no momento da crise. Só que toda essa situação provocou um aumento da dívida americana. Esse aumento do endividamento resulta em mais crise, pois provoca a propagação da informação de falta de confiabilidade dos EUA no mercado mundial. Isso é economia informacional. Uma informação vale bilhões. Mas o que faz a população desinformada em relação a esses processos?
Fonte da figura: http://ivenstidor.wordpress.com/
O que provocou esse turbilhão na economia foi uma informação, um sinal dado por um grupo de especialistas da Standard & Poor's, que rebaixaram a classificação de risco dos EUA de AAA para AA+. Ou seja, o que esses especialistas fizeram foi o anúncio de que investir nos EUA tornou-se mais arriscado. Para os especuladores globais, que injetam dinheiro em várias bolsas do mundo, se o investimento nos EUA é arriscado, o que se dirá de outros países como o Brasil? Nesse sentido, os especuladores retiram o dinheiro investido em vários locais do mundo, e ficam a espera de um cenário mais positivo. Eis o grande problema: a matriz produtiva depende, no modelo capitalista atual, do dinheiro proveniente da especulação dos mercados. Especular, no campo econômico, significa imaginar uma situação futura buscando tirar uma vantagem financeira dessa projeção. A melhor maneira para projetar o futuro é a informação, e por consenquência os sistemas informacionais e científicos ganham força nesse momento histórico do desenvolvimento capitalista. Uma informação como o rebaixamento da nota dos EUA é capaz de gerar tantos estragos, porque permite projetar cenários instantanamente. Tal situação revela a fragilidade do sistema econômico que vivemos, pois nos torna dependentes de um grupo econômico, os especuladores financeiros, que nunca querem perder. Agora, outra pergunta, por que os EUA se tornaram um mercado arriscado?
Os EUA estão em recessão econômica há praticamente uma década. Em 2008 a crise imobiliária foi o estouro de um processo que estava sendo gestado há algum tempo com a saída da produção industrial para locais onde a mão-de-obra é mais barata. Embora as matrizes das grandes empresas continuassem instaladas nos EUA, a empregabilidade da população estadunidense diminuiu sensívelmente (o que inclusive aumentou a desigualdade social interna). Em 2008, tentando segurar a crise, o Estado americano injetou 4 trilhões de dólares na economia, através do aumento de linhas de crédito, compra de capitais em empresas, etc. Ou seja, o governo americano funcionou como uma seguradora das empresas no momento da crise. Só que toda essa situação provocou um aumento da dívida americana. Esse aumento do endividamento resulta em mais crise, pois provoca a propagação da informação de falta de confiabilidade dos EUA no mercado mundial. Isso é economia informacional. Uma informação vale bilhões. Mas o que faz a população desinformada em relação a esses processos?
Fonte da figura: http://ivenstidor.wordpress.com/
quinta-feira, 30 de junho de 2011
A evolução da expectativa de vida e da renda nos últimos dois séculos
Há tempos não conseguia escrever no blog... o final do semestre é terrível para nós professores (correções de prova, trabalhos de campo, etc.).
Para não deixar junho sem postagens, resolvi colocar um material no blog nesse último dia do mês. Trata-se de um material produzido pela BBC sobre a evolução da expectativa de vida e da renda da população mundial nos últimos dois séculos.
O vídeo enquanto material gráfico é bastante interessante (quem dera eu tive esses recursos em sala de aula), o problema é a conclusão final do apresentador. No decorrer dos dois séculos, que coincidem com o desenvolvimento capitalista industrial e financeiro, percebe-se a formação de um grande abismo entre as antigas colônias e os países colonizadores. Os antigos colonizadores conseguem ter mais saúde e renda do que os países colonizados. E mesmo que os países colonizados tenham, nesses últimos séculos, melhorado seus índices de saúde, isso não significa que eles abandonarão facilmente a condição de pobreza, pois o desenvolvimento capitalista está estruturado em uma grande divisão internacional do trabalho que promove uma desigualdade estrutural.
Outra coisa... é importante ressaltar que os parâmetros mudam com o tempo, e a pobreza de hoje não é mesma pobreza de ontem. Por isso, mesmo que a saúde da população mais pobre do planeta tenha melhorado (refletindo em uma maior expectativa de vida), é bastante significativa a diferença que envolve pobres e ricos. Basta ver nas grandes cidades onde temos pessoas vivendo em casas com todo o conforto possível e inimaginável, e outras pessoas que moram amontoadas em moradias que não lhes dão uma condição mínima de dignidade. Pervesidades de um sistema econômico injusto.
Para não deixar junho sem postagens, resolvi colocar um material no blog nesse último dia do mês. Trata-se de um material produzido pela BBC sobre a evolução da expectativa de vida e da renda da população mundial nos últimos dois séculos.
O vídeo enquanto material gráfico é bastante interessante (quem dera eu tive esses recursos em sala de aula), o problema é a conclusão final do apresentador. No decorrer dos dois séculos, que coincidem com o desenvolvimento capitalista industrial e financeiro, percebe-se a formação de um grande abismo entre as antigas colônias e os países colonizadores. Os antigos colonizadores conseguem ter mais saúde e renda do que os países colonizados. E mesmo que os países colonizados tenham, nesses últimos séculos, melhorado seus índices de saúde, isso não significa que eles abandonarão facilmente a condição de pobreza, pois o desenvolvimento capitalista está estruturado em uma grande divisão internacional do trabalho que promove uma desigualdade estrutural.
Outra coisa... é importante ressaltar que os parâmetros mudam com o tempo, e a pobreza de hoje não é mesma pobreza de ontem. Por isso, mesmo que a saúde da população mais pobre do planeta tenha melhorado (refletindo em uma maior expectativa de vida), é bastante significativa a diferença que envolve pobres e ricos. Basta ver nas grandes cidades onde temos pessoas vivendo em casas com todo o conforto possível e inimaginável, e outras pessoas que moram amontoadas em moradias que não lhes dão uma condição mínima de dignidade. Pervesidades de um sistema econômico injusto.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Churrascão da gente diferenciada e a segregação sócio-espacial
No último fim de semana ocorreu em São Paulo um protesto bastante interessante chamado Churrascão da Gente Diferenciada. O tal churrasco ocorreu pelo fato do governo de São Paulo ter cedido a pressão da associação de moradores de Higienópolis (bairro de elite da capital paulista), que não queria uma estação de metro no local (Av. Angélica). Mas porque essa associação não quer uma estação de trem no bairro?
Justamente porque a estação aumenta a acessibilidade da cidade em relação ao bairro. E a acessibilidade não é bem vinda na medida em que os moradores do bairro querem mais é se fechar. Nesse caso como em outros similares, a elite local padece de um problema que infelizmente tem sido cada vez mais recorrente em nossa sociedade: a crença de que todo o pobre é uma potencial ameaça. Nos EUA, esse raciocínio elitista é chamado pelos pesquisadores locais de NIMBY (Not In my Backyard - Não no meu quintal). Esse tipo de posicionamento, reflete mais um preconceito entre tantos existentes na nossa sociedade.
Falando de brasil, esse escapismo da elite é cada vez mais visível na produção de condomínios de luxo que contam com quase todo tipo de infra-estrutura urbana (escolas, centros comerciais, áreas de lazer, etc.) dentro de si. Já falamos desse tipo de processo em outra oportunidade.
http://geoolhar.blogspot.com/2010/05/fragmentacao-do-espaco-urbano.html
A produção desse tipo de moradia foi chamada por um grande geógrafo brasileiro, Roberto Lobato Corrêa, de auto-segregação. Ou seja, o desejo de se isolar das pessoas diferentes, daquilo pode ser potencialemte ameaçador. Entretanto, o bairro de Higienópolis não é um condomínio em que a população que nele vive possa dar as regras. O referido bairro é propriedade da cidade, e por isso deve estar acessível a ela.
Por isso, o Churrascão da Gente Diferenciada foi uma iniciativa muito interessante. Nesse protesto ficou evidenciado que a cidade brasileira é segregada (ou fragmentada) e que precisamos, por isso, torná-la mais porosa (aberta). Um churrasco com a presença de todos os tipos de pessoa é uma iniciativa que abre a discussão para a necessidade da cidade se abrir ao invés de se guetificar.
Por isso que a estação de trem é importante no bairro, pois permite aumentar a porosidade da cidade através do aumento da acessibilidade pela ampliação da oferta de transporte urbano (que deve ser barato, diga-se de passagem).
Agora, será que deveríamos fazer uma tainhada na Praia Brava ou em Jurerê Internacional para chamar a atenção com relação a esse processo em Florianópolis? Acho que é melhor deixar para o verão...
Segue vídeos sobre o Churrascão da Gente Diferenciada e a polêmica da estação de metro:
Parte 1
Parte 2
Justamente porque a estação aumenta a acessibilidade da cidade em relação ao bairro. E a acessibilidade não é bem vinda na medida em que os moradores do bairro querem mais é se fechar. Nesse caso como em outros similares, a elite local padece de um problema que infelizmente tem sido cada vez mais recorrente em nossa sociedade: a crença de que todo o pobre é uma potencial ameaça. Nos EUA, esse raciocínio elitista é chamado pelos pesquisadores locais de NIMBY (Not In my Backyard - Não no meu quintal). Esse tipo de posicionamento, reflete mais um preconceito entre tantos existentes na nossa sociedade.
Falando de brasil, esse escapismo da elite é cada vez mais visível na produção de condomínios de luxo que contam com quase todo tipo de infra-estrutura urbana (escolas, centros comerciais, áreas de lazer, etc.) dentro de si. Já falamos desse tipo de processo em outra oportunidade.
http://geoolhar.blogspot.com/2010/05/fragmentacao-do-espaco-urbano.html
A produção desse tipo de moradia foi chamada por um grande geógrafo brasileiro, Roberto Lobato Corrêa, de auto-segregação. Ou seja, o desejo de se isolar das pessoas diferentes, daquilo pode ser potencialemte ameaçador. Entretanto, o bairro de Higienópolis não é um condomínio em que a população que nele vive possa dar as regras. O referido bairro é propriedade da cidade, e por isso deve estar acessível a ela.
Por isso, o Churrascão da Gente Diferenciada foi uma iniciativa muito interessante. Nesse protesto ficou evidenciado que a cidade brasileira é segregada (ou fragmentada) e que precisamos, por isso, torná-la mais porosa (aberta). Um churrasco com a presença de todos os tipos de pessoa é uma iniciativa que abre a discussão para a necessidade da cidade se abrir ao invés de se guetificar.
Por isso que a estação de trem é importante no bairro, pois permite aumentar a porosidade da cidade através do aumento da acessibilidade pela ampliação da oferta de transporte urbano (que deve ser barato, diga-se de passagem).
Agora, será que deveríamos fazer uma tainhada na Praia Brava ou em Jurerê Internacional para chamar a atenção com relação a esse processo em Florianópolis? Acho que é melhor deixar para o verão...
Segue vídeos sobre o Churrascão da Gente Diferenciada e a polêmica da estação de metro:
Parte 1
Parte 2
segunda-feira, 2 de maio de 2011
A morte de Bin Laden e seus efeitos simbólicos
Depois de vários dias sem escrever neste blog devido as tarefas gigantescas de um doutorado, decidi retomar a escrita para comentar a morte de Osama Bin Laden. Ontem o governo dos EUA anunciou a morte de Osama Bin Laden, que era o homem mais procurado pelas agências de segurança americanas depois do atentado de 11 de setembro. Entretanto cabe ressaltar que quem morreu foi o homem, mas não a organização Al Qaeda (que inclusive deve revidar o ataque). Ou seja, a ação para matar Bin Laden tinha um objetivo distante do combate ao terrorismo, pois a Al Qaeda vai continuar a agir no planeta. Agora os efeitos simbólicos que a morte de Bin Laden traz, são sem dúvida muito importantes de serem levados em conta. O principal efeito simbólico é a demonstração de eficiência e de poderio bélico dos EUA perante o mundo. Com a crise econômica que afeta os EUA nos últimos anos, essa sem dúvida é uma ação que fortalece o ego americano e sua posição hegemônica no cenário mundial. Esse efeito simbólico construído pela ação que matou Bin Laden pode garantir a reeleição de Barack Obama no ano que vem. Obama, que estava com baixos índices de popularidade, reaparece como favorito a eleição de 2012 nos EUA. Aliás, Obama simplesmente repete a fórmula de alguns de seus antecessores que na ânsia pela vitória em uma eleição, procuram se livrar de algum inimigo da nação americana, como ocorreu quando Bush se reelegeu através da morte de Saddam Hussein (o engraçado é que tanto Bin Laden como Saddam foram treinados pelos próprios americanos). É a política do Big Stick sendo implacável até hoje.
Depois desse episódio, lembrei de uma música do Nei Lisboa do Álbum Cena Beatnik (2001) que ainda serve para descrever a política americana:
DEU NA TV
O presidente dos Estados Unidos
Salvou a Terra do choque de um cometa
E eliminou os terroristas malvados
Que ameaçavam dominar o planeta
O presidente não poupou esforços
Arremessando aviões e foguetes
E embora errando uns tantos alvos
Mereceu dos seus os seus aplausos
Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?
Eu vi, deu na TV, e quase acreditei
Ahá, hã, hã
Mas quem é que se deu mal no Vietnã?
O presidente dos Estados Unidos
Protege o mundo livre do mundo preso
E prende todo mundo que for preciso
Pra não deixar o presidente indefeso
O presidente é belo e corajoso
E religioso ao falar à nação
Sobre os boatos sem sentido
Do assassinato de um inimigo
O presidente é quase sempre honesto
E nascido na Carolina dos fundos
Onde se fuma e não se traga
E não se sabe o que é que estraga o mundo
Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?
Eu vi, deu na TV, e quase engoli,
Mas não, não vai dar
Que esse charuto tem um lugar mais justo pra entrar
Depois desse episódio, lembrei de uma música do Nei Lisboa do Álbum Cena Beatnik (2001) que ainda serve para descrever a política americana:
DEU NA TV
O presidente dos Estados Unidos
Salvou a Terra do choque de um cometa
E eliminou os terroristas malvados
Que ameaçavam dominar o planeta
O presidente não poupou esforços
Arremessando aviões e foguetes
E embora errando uns tantos alvos
Mereceu dos seus os seus aplausos
Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?
Eu vi, deu na TV, e quase acreditei
Ahá, hã, hã
Mas quem é que se deu mal no Vietnã?
O presidente dos Estados Unidos
Protege o mundo livre do mundo preso
E prende todo mundo que for preciso
Pra não deixar o presidente indefeso
O presidente é belo e corajoso
E religioso ao falar à nação
Sobre os boatos sem sentido
Do assassinato de um inimigo
O presidente é quase sempre honesto
E nascido na Carolina dos fundos
Onde se fuma e não se traga
E não se sabe o que é que estraga o mundo
Eu vi, deu na TV, veja você
Mas é de se perguntar
Onde é que Watergate foi parar?
Eu vi, deu na TV, e quase engoli,
Mas não, não vai dar
Que esse charuto tem um lugar mais justo pra entrar
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